Quero que desprezem
a poética até o último instante.
Quero que zombem,
que maltratem essa arte.
Quero que a limária
das palavras seja tripudiada,
Que edifiquem
cemitérios com obras de redondilhas.
Quero que proíbam a
disseminação da rima,
Que gargalhem quando
passar o poeta.
Que destruam qualquer
gene desse vício,
Que desiludam um a
um os novos aprendizes.
E então, quando tudo
acabar,
E cada um dos homens
de ferro estiver só,
Nascerá neles uma
inconsistente risca de Poesia.
Restará para eles
uma profunda solidão,
Que é irmã gêmea da
Poesia.
Restará o desejo
pelo que eles não foram,
Que é o desabafo na
Poesia.
Restará o escárnio
pelos que foram Poetas,
Que é o ponto
crítico da Poesia.
Restará só a
lembrança de um peito de aço,
Que é o refúgio na
Poesia.
E quando cada
certeza se tornar um delírio
(apenas a miragem de
uma luz inexistente
imaginada na
escuridão do derradeiro),
Restará apenas o Medo.
E o Último dos
Homens de Ferro se tornará Poeta,
Cultivando em seu
medo a mais sublime Poesia.
patrícia moresco