quarta-feira, 31 de março de 2010
segunda-feira, 29 de março de 2010
aquela
Minha amada é de carne,
de pele e pêlo.
Ora é negra, ora é loura, ora é vermelha.
Minha amada é três. É trinta e três.
Minha amada é lisa, é crespa, é salgada, é doce.
Ela é flor, é fruto, é folha, é tronco.
Também é pão, é sal e manga-rosa.
Minha amada é cidade de ruas e pontes.
É jardim de arrancar flores pelo talo.
Ela é boazuda e é bela como uma fera.
Minha amada é lúbrica, é casta, é catinguenta.
Minha amada tem bocas e bocas de sorver,
de sugar, de espremer, de comer.
Minha amada é funda, latifúndia.
Minha amada é ela, aquela que não vem.
Ainda não veio, nunca veio, ainda não.
Mas virá, ora se virá. A diaba me virá.
darcy ribeiro
sábado, 27 de março de 2010
Silêncio.
Se um dia Deus vier à terra haverá silêncio grande.
O silêncio é tal que nem o pensamento pensa. O final foi bastante grandiloquente para a vossa necessidade? Morrendo ela virou ar: Ar enérgico? Não sei. Morreu em um instante. O instante é aquele átimo de tempo em que o pneu do carro correndo em alta velocidade toca no chão e depois não toca mais e depois toca de novo. Etc., etc., etc. No fundo ela não passara de uma caixinha de música meio desafinada.
Eu vos pergunto:
- Qual é o peso da luz?
E agora - agora só me resta acender um cigarro e ir para casa. Meu Deus, só agora me lembrei que a gente morre. Mas - mas eu também?!
Não esquecer que por enquanto é tempo de morangos.
Sim.
clarice
Se um dia Deus vier à terra haverá silêncio grande.
O silêncio é tal que nem o pensamento pensa. O final foi bastante grandiloquente para a vossa necessidade? Morrendo ela virou ar: Ar enérgico? Não sei. Morreu em um instante. O instante é aquele átimo de tempo em que o pneu do carro correndo em alta velocidade toca no chão e depois não toca mais e depois toca de novo. Etc., etc., etc. No fundo ela não passara de uma caixinha de música meio desafinada.
Eu vos pergunto:
- Qual é o peso da luz?
E agora - agora só me resta acender um cigarro e ir para casa. Meu Deus, só agora me lembrei que a gente morre. Mas - mas eu também?!
Não esquecer que por enquanto é tempo de morangos.
Sim.
clarice
toque-me
Toque baião, toque frevo,
toque rock, toque rumba,
mas não toque nesse assunto
toque tudo sempre assim
só não toque nesse assunto
e nunca toque no fim
toque paixão, toque samba,
toque funk, toque mambo
toque só porque eu mando
toque o mundo, toque fundo
eu quero que você se toque
em cada parte de mim.
alice ruiz
alice ruiz
segunda-feira, 22 de março de 2010
auto retrato
Alguém diz que sou bondosa:
está tão enganado que dá pena.
Alguém diz que sou severa,
e acho graça.
Não sou áspera nem amena:
estou na vida como o jardineiro
se entrega em cada rosa:
corte, sangue, dor e aroma
para que a beleza fique na memória
quando a flor passa.
Amar é lidar com os espinhos de quem ama por inteiro:
com força, não com fraqueza.
lya luft
sexta-feira, 19 de março de 2010
agora saudade
saudade de alguém para contar meus segredos, para chorar meus medos, para acalmar meu coração. saudade de um colo que me faça descansar meu desespero, saudade de um gesto de desejo, de um sorriso, de uma palavra.
saudade de ficar sem fazer nada, discutindo as formas das nuvens, de deitar na grama e ficar abraçado. saudade do carinho quando ganhamos cafuné, saudade do cheiro e do gosto depois do sexo.
saudade de declarações inesperadas, de acordar no meio da noite e receber uma ligação, saudade do sabor de fim da tarde vendo o pôr-do-sol e um sorriso.
saudade de pertencer.
saudade cor de abóbora, com gosto de outono sem flor nenhuma.
saudade começada, incontida, sozinha.
candicemachado
saudade de declarações inesperadas, de acordar no meio da noite e receber uma ligação, saudade do sabor de fim da tarde vendo o pôr-do-sol e um sorriso.
saudade de pertencer.
saudade cor de abóbora, com gosto de outono sem flor nenhuma.
saudade começada, incontida, sozinha.
candicemachado
quarta-feira, 17 de março de 2010
segunda-feira, 15 de março de 2010
domingo, 14 de março de 2010
canção para um desencontro
Deixa-me errar alguma vez,
porque também sou isso: incerta e dura,
e ansiosa de não te perder agora que entrevejo
um horizonte.
Deixa-me errar e me compreende
porque se faço mal é por querer-te
desta maneira tola, e tonta, eternamente
recomeçando a cada dia como num descobrimento
dos teus territórios de carne e sonho, dos teus
desvãos de música ou vôo, teus sótãos e porões
e dessa escadaria de tua alma.
Deixa-me errar mas não me soltes
para que eu não me perca
deste tênue fio de alegria
dos sustos do amor que se repetem
enquanto houver entre nós essa magia.
lya luft
- Então, de repente, sem pretender,
respirou fundo e pensou que era bom viver.
Mesmo que as partidas doessem, e que a cada dia fosse necessário
adotar uma nova maneira de agir e de pensar, descobrindo-a inútil
no dia seguinte - mesmo assim era bom viver. Não era fácil,
nem agradável. Mas ainda assim era bom.
Tinha quase certeza.
caiof.abreu
quarta-feira, 10 de março de 2010
Para pensar em ti todas as horas fogem
para pensar em ti todas as horas fogem:
o tempo humano expira em lágrima e cegueira.
tudo são praias onde o mar afoga o amor.
quero a insônia, a vigília, uma clarividência
desse instante que habito - ai, meu domínio triste!,
ilha onde eu mesma nada sei fazer por mim.
vejo a flor, vejo no ar a mensagem das nuvens
- e na minha memória és imortalidade -
vejo as datas, escuto o próprio coração.
e depois o silêncio. e teus olhos abertos
nos meus fechados. e esta ausência em minha boca:
pois bem sei que falar é o mesmo que morrer.
da vida à vida, suspensas fugas.
cecilia meireles
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