quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Ajuntei todas as pedras
que vieram sobre mim.
Levantei uma escada muito alta
e no alto subi.
Teci um tapete floreado
e no sonho me perdi.

Uma estrada,
um leito,
uma casa,
um companheiro.
Tudo de pedra.

Entre pedras
cresceu a minha poesia.
Minha vida...
Quebrando pedras
e plantando flores.

Entre pedras que me esmagavam
levantei a pedra rude
dos meus versos.


cora coralina - das pedras
cm



..
A mulher que eu amo
Tem a pele morena
É bonita, é pequena
E me ama também
A mulher que eu amo

Tem tudo que eu quero
E até mais do que espero
Encontrar em alguém
A mulher que eu amo

Tem um lindo sorriso
É tudo que eu preciso
Pra minha alegria
A mulher que eu amo

Tem nos olhos a calma
Ilumina minha alma
É o sol do meu dia
Tem a luz das estrelas

E a beleza da flor
Ela é minha vida
Ela é o meu amor
A mulher que eu amo

É o ar que eu respiro
E nela eu me inspiro
Pra falar de amor
Quando vem pra mim

É suave como a brisa
E o chão que ela pisa
Se enche de flor
A mulher que eu amo

Enfeita a minha vida
Meus sonhos realiza
Me faz tanto bem
Seu amor é pra mim

O que há de mais lindo
Se ela está sorrindo
Eu sorrio também
Tudo nela é bonito

Tudo nela é verdade
E com ela eu acredito
Na felicidade



roberto carlos - a mulher que eu amo

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

mc' =)
É assim que te quero, amor,
assim, amor, é que eu gosto de ti,
tal como te vestes
e como arranjas
os cabelos e como
a tua boca sorri,
ágil como a água
da fonte sobre as pedras puras,
é assim que te quero, amada,
Ao pão não peço que me ensine,
mas antes que não me falte
em cada dia que passa.
Da luz nada sei, nem donde
vem nem para onde vai,
apenas quero que a luz alumie,
e também não peço à noite explicações,
espero-a e envolve-me,
e assim tu pão e luz
e sombra és.
Chegastes à minha vida
com o que trazias,
feita de luz e pão e sombra,
eu te esperava,
e é assim que preciso de ti,
assim que te amo,
e os que amanhã quiserem ouvir
o que não lhes direi,
que o leiam aqui
e retrocedam hoje porque é cedo
para tais argumentos.
Amanhã dar-lhes-emos apenas
uma folha da árvore do nosso amor,
uma folha
que há de cair sobre a terra
como se a tivessem produzido os nossos lábios,
como um beijo caído
das nossas alturas invencíveis
para mostrar o fogo e a ternura
de um amor verdadeiro.
pablo neruda



[...]
Para mim és tesouro mais intenso de imensidão
que o mar e seus racimos
e és branca, és azul e
extensa como a terra na vindima.
Nesse território, de teus pés à tua fronte,
andando, andando, andando,
eu passarei a vida.

pablo neruda

cm ever.



Criar de si próprio um ser é muito grave. Estou me criando. E andar na escuridão completa à procura de nós mesmos é o que fazemos.

clarice



Eu amo tudo o que foi,
Tudo o que já não é,
A dor que já me não dói,
A antiga e errônea fé,
O ontem que dor deixou,
O que deixou alegria
Só porque foi, e voou
E hoje já é outro dia.



fernando pessoa - eu amo tudo
Se recordo quem fui, outrem me vejo,
E o passado é o presente na lembrança.
Quem fui é alguém que amo
Porém somente em sonho.
E a saudade que me aflige a mente
Não é de mim nem do passado visto,
Senão de quem habito
Por trás dos olhos cegos.
Nada, senão o instante, me conhece,
Minha mesma lembrança é nada, e sinto
Que quem sou e quem fui
São sonhos diferentes.


ricardo reis - se recordo

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

...


essa aceitação ingênua de quem não sabe que viver é, constantemente, construir, e não derrubar. De quem não sabe que esse prolongado construir implica erros - e saber viver implica em não ver esses erros, em suavizá-los e distorcê-los ou mesmo eliminá-los para que o restante da construção não seja ameaçado.


caiof.abreu

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Vive, dizes

Vive, dizes, no presente;
Vive só no presente.
Mas eu não quero o presente, quero a realidade;
Quero as cousas que existem, não o tempo que as mede.
O que é o presente?
É uma cousa relativa ao passado e ao futuro.
É uma cousa que existe em virtude de outras cousas existirem.
Eu quero só a realidade, as cousas sem presente.
Não quero incluir o tempo no meu esquema.
Não quero pensar nas cousas como presentes; quero pensar nelas
como cousas.
Não quero separá-las de si-próprias, tratando-as por presentes.
Eu nem por reais as devia tratar.
Eu não as devia tratar por nada.
Eu devia vê-las, apenas vê-las;
Vê-las até não poder pensar nelas.
Vê-las sem tempo, nem espaço.
Ver podendo dispensar tudo menos o que se vê.
É esta a ciência de ver, que não é nenhuma.
alberto caeiro

É talvez o último dia da minha vida.
Saudei o sol, levantando a mão direita,
Mas não o saudei, dizendo-lhe adeus,
Fiz sinal de gostar de o ver antes:
mais nada.

Alberto Caeiro - é talvez.

domingo, 13 de dezembro de 2009


Impossível, diz em eco a mornidão ainda
tão mordente e fresca da primavera.
Impossível que esse ar não traga o amor do mundo!
repete o coração que parte sua secura crestada num sorriso.
E nem sequer reconhece que já o trouxe,
que aquilo é amor.
Esse primeiro calor ainda fresco traz: tudo.
Apenas isso e indiviso: tudo.
clarice

Canção 10


Nós perdemos também este crepúsculo.
Ninguém nos viu à tarde com as mãos unidas
enquanto a noite azul caía sobre o mundo.
Vi, de minha janela,
a festa do poente nos montes distantes.
Às vezes, qual moeda,
acendia-se um pouco de sol em minhas mãos.
Eu te recordava com a alma apertada
por essa tristeza que conheces em mim.
Então, onde estarias?
Junto a que gente?
Dizendo que palavras?
Por que me há de vir todo este amor de um golpe
quando me sinto triste e te sinto distante?
Caiu-me o livro que sempre se escolhe ao crepúsculo
e como um cão ferido rolou-me aos pés a capa.
Sempre, sempre te afastas pela tarde
até onde o crepúsculo corre apagando estátuas.
pablo neruda

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

~~
E hoje não. Que não me doa hoje o existir dos outros, que não me doa hoje pensar nessa coisa puída de todos os dias, que não me comovam os olhos alheios e a infinita pobreza dos gestos com que cada um tenta salvar o outro deste barco furado. Que eu mergulhe no roxo deste vazio de amor de hoje e sempre e suporte o sol das cinco horas posteriores, e posteriores, e posteriores ainda.
caiof.abreu


Chegue bem perto de mim. Me olhe, me toque, me diga qualquer coisa. Ou não diga nada, mas chegue mais perto. Não seja idiota, não deixe isso se perder, virar poeira, virar nada..



=/
realidade confusa...plena oca e só;
vão na alma, sensação de nunca mais poder voltar
a ter uma felicidade simples..realidade enganada.
lágrimas de derrota e saudade. candicemachado
=/
'Não sei, até hoje não sei se o príncipe era um deles. Eu não podia saber, ele não falava. E, depois, ele não veio mais. eu dava um cavalo branco para ele, uma espada, dava um castelo e bruxas para ele matar, dava todas essas coisas e mais as que ele pedisse, fazia com a areia, com o sal, com as folhas dos coqueiros, com as cascas dos cocos, até com a minha carne eu construía um cavalo branco para aquele príncipe. mas ele não queria, acho que ele não queria, e eu não tive tempo de dizer que quando a gente precisa que alguém fique a gente constrói qualquer coisa, até um castelo.'
caiof.abreu
Continuo a pensar que quando tudo parece sem saída, sempre se pode cantar.
Por essa razão escrevo.
...
Fico tão cansada às vezes,
e digo pra mim mesma que está errado,
que não é assim, que não é este o tempo,
que não é este o lugar, que não é esta a vida.
E fumo, e fico horas sem pensar absolutamente nada: (...)
Claro, é preciso julgar a si próprio com o máximo de rigidez,
mas não sei se você concorda, as coisas por natureza já
são tão duras para mim que não
me acho no direito de endurecê-las ainda mais.
^^

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Tão estranho carregar uma vida inteira no corpo, e ninguém suspeitar dos traumas, das quedas, dos medos, dos choros.
..
Depois de todas as tempestades e naufrágios o que fica de mim e em mim é cada vez mais essencial e verdadeiro.
Chorar por tudo que se perdeu, por tudo que apenas ameaçou e não chegou a ser, pelo que perdi de mim, pelo ontem morto, pelo hoje sujo, pelo amanhã que não existe, pelo muito que amei e não me amaram, pelo que tentei ser correto e não foram comigo. Meu coração sangra com uma dor que não consigo comunicar a ninguém, recuso todos os toques e ignoro todas tentativas de aproximação. Tenho vergonha de gritar que esta dor é só minha, de pedir que me deixem em paz e só com ela, como um cão com seu osso.
A única magia que existe é estarmos vivos e não entendermos nada disso. A única magia que existe é a nossa incompreensão.
caiof.abreu

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Tenho uma vontade besta de voltar, às vezes.
Mas é uma vontade semelhante à de não ter crescido.
caio f. abreu

passarinhos

  Despencados de voos cansativos Complicados e pensativos Machucados após tantos crivos Blindados com nossos motivos Amuados, reflexivo...