Contar-te longamente as perigosas coisas do mar. Contar-te o amor ardente e as ilhas que só há no verbo amar. Contar-te longamente longamente. Amor ardente. Amor ardente. E mar. Contar-te longamente as misteriosas maravilhas do verbo navegar. E mar. Amar: as coisas perigosas.
Contar-te longamente que já foi num tempo doce coisa amar. E mar. Contar-te longamente como dói
desembarcar nas ilhas misteriosas. Contar-te o mar ardente e o verbo amar. E longamente as coisas perigosas.
manuel alegre
quarta-feira, 27 de janeiro de 2010
Deus disse: Vou ajeitar a você um dom: Vou pertencer você para uma árvore. E pertenceu-me. Escuto o perfume dos rios. Sei que a voz das águas tem sotaque azul. Sei botar cílio nos silêncios. Para encontrar o azul eu uso pássaros. Só não desejo cair em sensatez. Não quero a boa razão das coisas. Quero o feitiço das palavras.
Aqui ficam as coisas. Amar é a mais alta constelação. Os sapatos sem dono tripulando na correnteza-espaço em que deitamos.
As minhas mãos telhado no teu rosto de pombas.
Os corpos circulando na varanda dos braços.
É a mais alta constelação.
carlos nejar
domingo, 24 de janeiro de 2010
Esse seu silêncio soa como um grito, abafado em panos. Só faz denunciar os danos que causei. Desculpe o mal jeito, mas comporto, em minha quota de defeitos, não levar junto os enganos que eu amei.
flora figueiredo - Atitude
quarta-feira, 20 de janeiro de 2010
Creio que foi o sorriso, o sorriso foi quem abriu a porta. Era um sorriso com muita luz lá dentro, apetecia entrar nele, tirar a roupa, ficar nu dentro daquele sorriso. Correr, navegar, morrer naquele sorriso.
Só me resta agora Esta graça triste De te haver esperado Adormecer primeiro. Ouço agora o rumor Das raízes da noite, Também o das formigas Imensas, numerosas, Que estão, todas, corroendo As rosas e as espigas. Sou um ramo seco Onde duas palavras Gorjeiam. Mais nada. E sei que já não ouves Estas vãs palavras. Um universo espesso Dói em mim com raízes De tristeza e alegria. Mas só lhe vejo a face Da noite e a do dia. Não te dei o desgosto De ter partido antes. Não te gelei o lábio Com o frio do meu rosto. O destino foi sábio: Entre a dor de quem parte E a maior — de quem fica — Deu-me a que, por mais longa, Eu não quisera dar-te. Que me importa saber Se por trás das estrelas haverá outros mundos Ou se cada uma delas É uma luz ou um charco? O universo, em arco, Cintila, alto e complexo. E em meio disso tudo E de todos os sóis, Diurnos, ou noturnos, Só uma coisa existe. É esta graça triste De te haver esperado Adormecer primeiro. É uma lápide negra Sobre a qual, dia e noite, Brilha uma chama verde.
cassiano ricardo - pessoa
intenso brilho
É impossível no mundo estarmos juntos ainda que do meu lado adormecesses. O véu que protege a vida nos separa. O véu que protege a vida nos protege. Aproveita, pois, que é tudo branco agora, à boca do precipício, neste vórtice e fala nesta clareira aberta pela insônia quero ouvir tua alma a que mora na garganta como em túmulos esperando a hora da ressurreição, fala meu nome antes que eu retorne ao dia pleno, à semi-escuridão.
adélia prado
sexta-feira, 15 de janeiro de 2010
.. Hoje eu não consigo mais me lembrar
De quantas janelas me atirei
E quanto rastro de incompreensão
Eu já deixei
Tantos bons quanto maus motivos
Tantas vezes desilusão
E quase
Quase nunca a vida é um balão Mas o teu amor me cura
De uma loucura qualquer
É encostar no seu peito
E se isso for algum defeito
Por mim tudo bem
tudo bem
lulu santos - tudo bem
segunda-feira, 11 de janeiro de 2010
I love you sweet leaf, oh..
black sabbath - sweet leaf
(sem apologias, só uma declaração de amor. (: )
domingo, 10 de janeiro de 2010
Luz versus luz
de ilusão em ilusão até a desilusão é um passo sem solução um abraço um abismo um soluço adeus a tudo que é bom quem parece são não é e os que não parecem são
Paulo Leminski
Fonte pura, fonte fria...
(Onde vais, minha canção?)
Fonte pura..., assim queria
que fosse meu coração:
fluir na noite e no dia
sem se desprender do chão.
eugenio de andrade
quinta-feira, 7 de janeiro de 2010
recomeça
Se puderes Sem angústia E sem pressa. E os passos que deres, Nesse caminho duro Do futuro Dá-os em liberdade. Enquanto não alcances Não descanses. De nenhum fruto queiras só metade. E, nunca saciado, Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar. Sempre a sonhar e vendo O logro da aventura. És homem, não te esqueças! Só é tua a loucura Onde, com lucidez, te reconheças…
miguel torga
quarta-feira, 6 de janeiro de 2010
Estou tentando abrir um túnel na rocha bruta. Eu sei, sei que é penoso. Mas qual é a busca que em si mesma não traga sua pena?
clarice
terça-feira, 5 de janeiro de 2010
faz.
Diz pra mim Que vai e volta mais, e ouve do peito fundo, o grito que chama "FAZ". Faz de mim Mulher do teu coração Errado tá todo mundo Dizendo ser contramão Não tô eu Querendo tocar você Se fosse mais um segundo Já dava até na TV ..
mallu magalhães
domingo, 3 de janeiro de 2010
[...] Então, meu coração também pode crescer. Entre o amor e o fogo,entre a vida e o fogo, meu coração cresce dez metros e explode. – Ó vida futura! Nós te criaremos.
Desejo primeiro que você ame, E que amando, também seja amado. E que se não for, seja breve em esquecer. E que esquecendo, não guarde mágoa. Desejo, pois, que não seja assim Mas se for, saiba ser sem se desesperar Desejo também que tenha amigos Que mesmo maus e inconseqüentes Sejam corajosos e fiéis E que pelo menos em um deles Você possa confiar sem duvidar E porque a vida é assim Desejo ainda que você tenha inimigos Nem muitos, nem poucos Mas na medida exata para que Algumas vezes você se interpele A respeito de suas próprias certezas. E que entre eles Haja pelo menos um que seja justo Desejo depois, que você seja útil Mas não insubstituível E que nos maus momentos Quando não restar mais nada Essa utilidade seja suficiente Para manter você de pé. Desejo ainda que você seja tolerante Não com os que erram pouco Porque isso é fácil Mas com os que erram muito e irremediavelmente E que fazendo bom uso dessa tolerância Você sirva de exemplo aos outros Desejo que você, sendo jovem, Não amadureça depressa demais E que sendo maduro Não insista em rejuvenescer E que sendo velho Não se dedique ao desespero Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor Desejo, por sinal, que você seja triste [Não o ano todo, mas apenas um dia Mas que nesse dia Descubra que o riso diário é bom O riso habitual é insosso E o riso constante é insano. Desejo que você descubra Com o máximo de urgência Acima e a respeito de tudo Que existem oprimidos, injustiçados e infelizes E que estão bem à sua volta Desejo ainda Que você afague um gato, alimente um cuco E ouça o joão-de-barro Erguer triunfante o seu canto matinal Porque assim, você se sentirá bem por nada Desejo também Que você plante uma semente, por menor que seja E acompanhe o seu crescimento Para que você saiba De quantas muitas vidas é feita uma árvore Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro Porque é preciso ser prático E que pelo menos uma vez por ano Coloque um pouco dele na sua frente e diga:"Isso é meu" Só para que fique bem claro Quem é o dono de quem Desejo também Que nenhum de seus afetos morra Por eles e por você Mas que se morrer Você possa chorar sem se lamentar E sofrer sem se culpar Desejo por fim Que você sendo homem, tenha uma boa mulher E que sendo mulher, tenha um bom homem Que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes E quando estiverem exaustos e sorridentes Ainda haja amor pra recomeçar E se tudo isso acontecer Não tenho mais nada a lhe desejar