sexta-feira, 15 de março de 2013

a pedra


pedra sendo
eu tenho gosto de jazer no chão.
só privo com lagarto e borboletas.
certas conchas se abrigam em mim.
de meus interstícios crescem musgos.
passarinhos me usam para afiar seus bicos.
às vezes uma garça me ocupa de dia.
fico louvoso.
há outros privilégios de ser pedra:
a - Eu irrito o silêncio dos insetos.
b - Sou batido de luar nas solitudes.
c - Tomo banho de orvalho de manhã.
d - E o sol me cumprimenta por primeiro

manoel de barros

quinta-feira, 7 de março de 2013

poema começado no fim


um corpo quer outro corpo.
uma alma quer outra alma e seu corpo.
este excesso de realidade me confunde.
jonathan falando:
parece que estou num filme.
se eu lhe dissesse você é estúpido
ele diria sou mesmo.
se ele dissesse vamos comigo ao inferno passear
eu iria.
as casas baixas, as pessoas pobres,
e o sol da tarde,
imaginai o que era o sol da tarde
sobre a nossa fragilidade.
vinha com Jonathan
pela rua mais torta da cidade.
o Caminho do Céu.

adélia prado

quarta-feira, 6 de março de 2013

de passarinhos


para compor um tratado sobre passarinhos
é preciso por primeiro que haja um rio com árvores
e palmeiras nas margens
e dentro dos quintais das casas que haja pelo menos
goiabeiras.
e que haja por perto brejos e iguarias de brejos.
é preciso que haja insetos para os passarinhos.
insetos de pau sobre tudo que são os mais palatáveis.
a presença de libélulas seria uma boa.
o azul é muito importante na vida dos passarinhos
porque os passarinhos precisam antes de belos ser
eternos
eternos que nem uma fuga de Bach.

manoel de barros

passarinhos

  Despencados de voos cansativos Complicados e pensativos Machucados após tantos crivos Blindados com nossos motivos Amuados, reflexivo...