domingo, 1 de junho de 2008

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Ela estava se arrumando para dormir. Mas olhou para porta e viu
uma luz ainda acesa. Levantou-se para apagá-la. Mas quando olhou para porta, algo estranho
havia acontecido ali. As chaves que estavam junto à chave principal não estavam ali. E o chaveiro estava balançando como se alguém a pouco tivesse utilizado o objeto.
A porta estava entreaberta.
Ela não teve tempo para pensar. Sua vida inteira começou a passar em sua cabeça. Porquê? Nem se lhe dissessem porquê nascem os olhos d'água, ela saberia responder. Simplesmente sua vida passou em sua cabeça. Tudo ao mesmo tempo. Ela ainda estava com aquela cena da casa arrombada pela janela da cozinha e, imaginou alguém ali.
Outra vez. Em sua casa. Mas agora ela estava presente.
Quem haveria de invadir sua casa? Um ladrão para roubar o quê?
Seus valores não estavam na matéria. Seus valores não poderiam ser roubados. Isso a deixava tranqüila. Ou menos tensa.
Ela relembrou da primeira invasão.
Não havia grades. Quebraram o vidro da janela. Levaram alguns objetos pessoais que estavam no seu quarto.
Isso a abalou. Ela nunca mais esqueceria. Ela relembrou que alguém já havia invadido seu lar. E tentado invadir também seus anseios. Não conseguiram.
Mas agora, ela estava com medo. Se fizessem mal à seu corpo ou algo parecido, como poderiam não roubar-lhe o que se passava em sua mente?
Olhou para trás. Alguém estava se aproximando dela. Tinha entrado pelos fundos com sua chave!
Pelas feições era uma mulher. De sua altura. Cabelos molhados. Olhos vermelhos.
Ela conhecia aquela pessoa. E não conseguia se mover.
A moça se aproximou. Elas se olharam.
Por mais fundo que sejam os oceanos, ou por mais distante que sejam as galáxias, ninguém jamais conseguirá explicar esse encontro.
Dois seres idênticos! Elas se olhavam. Isso era possível?
Ela teve medo. Estava vendo a si mesma em sua frente. Só que a moça tinha no rosto um olhar vazio. Era ela! Era como se parasse e se olhasse no espelho.
Ela estava de frente para si mesma, mas não queria ver aquilo. Era muito para ela. A moça era seu lado obscuro. E a moça continuou a se aproximar.
Ela quis gritar. Ela tentou com todas as forças. Nada saía de sua boca. Mudo. A moça a tocou. Ela ainda tentava gritar. Nada.
Medo.
E sentiu um abraço. Mas não era a moça.
Ela acordou.
Aquele pesadelo fora adiado.
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passarinhos

  Despencados de voos cansativos Complicados e pensativos Machucados após tantos crivos Blindados com nossos motivos Amuados, reflexivo...