segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Sossega coração



Sossega, coração! Não desesperes!
Talvez um dia, para além dos dias,
Encontres o que queres porque o queres.
Então, livre de falsas nostalgias,
Atingirás a perfeição de seres.
Mas pobre sonho o que só quer não tê-lo!
Pobre esperança a de existir somente!
Como quem passa a mão pelo cabelo
E em si mesmo se sente diferente,
Como faz mal ao sonho o concebê-lo!
Sossega, coração, contudo!
Dorme! O sossego não quer razão nem causa.
Quer só a noite plácida e enorme.
A grande, universal, solene pausa
Antes que tudo em tudo se transforme.






fernando pessoa

anáLise



Tão abstrata é a idéia do teu ser
Que me vem de te olhar, que, ao entreter
Os meus olhos nos teus, perco-os de vista,
E nada fica em meu olhar, e dista
Teu corpo do meu ver tão longemente,
E a idéia do teu ser fica tão rente
Ao meu pensar olhar-te, e ao saber-me
Sabendo que tu és, que, só por ter-me
Consciente de ti, nem a mim sinto.
E assim, neste ignorar-me a ver-te, minto
A ilusão da sensação, e sonho,
Não te vendo, nem vendo, nem sabendo
Que te vejo, ou sequer que sou, risonho
Do interior crepúsculo tristonho
 
Em que sinto que sonho o que me sinto sendo.




fernando pessoa

ao lado do reino encantado' umbú.




- os olhos, ela viu, os olhos tinham mudado. Estavam parados, com uma coisa no fundo que parecia paz. Ou desencanto. 




caio f.

O Ovo e a Galinha


- Nós, agentes disfarçados e distribuídos pelas funções menos reveladoras, nós às vezes nos reconhecemos. A um certo modo de olhar, a um jeito de dar a mão, nós nos reconhecemos e a isto chamamos de amor. E então não é necessário o disfarce: embora não se fale, também não se mente, embora não se diga a verdade, também não é necessário dissimular. Amor é quando é concedido participar um pouco mais. Poucos querem o amor, porque o amor é a grande desilusão de tudo o mais. E poucos suportam perder todas as outras ilusões. Há os que voluntariam para o amor, pensando que o amor enriquecerá a vida pessoal. É o contrário: amor é finalmente a pobreza. Amor é não Ter. Inclusive amor é a desilusão do que se pensava que era amor. E não é prêmio, por isso não envaidece, amor não é prêmio, é uma condição concedida exclusivamente para aqueles que ,sem ele, corromperiam o ovo com a dor pessoal. Isso não faz do amor uma exceção honrosa; ele é exatamente concedido aos maus agentes, àqueles que atrapalhariam tudo se não lhes fosse permitido adivinhar vagamente.



claricelispector

domingo, 25 de janeiro de 2009

- Mergulho e depois emerjo, como de nuvens, das terras ainda não possíveis, ah ainda não possíveis. Daquelas que eu ainda não soube imaginar, mas que brotarão. Ando, deslizo, continuo, continuo...Sempre, sem parar, distraindo a minha sede cansada de pousar num fim.


clarice
- É preciso saber sentir, mas também saber como deixar de sentir, porque se a experiência é sublime pode tornar-se igualmente perigosa. Aprenda a encantar e a desencantar. Observe, estou lhe ensinando qualquer coisa de precioso: a mágica oposta do "abre-te, Sésamo". Para que um sentimento perca o perfume e deixe de intoxicar-nos, nada há de melhor que expô-lo ao sol.

claricelispector




Aonde quer que eu vá, eu descubro que um poeta esteve lá antes de mim. Freud

Live Forever - Oasis

(Viver Para Sempre)

Talvez eu não queira realmente saber
Como seu jardim floresce
Porque eu apenas quero voar
Ultimamente você já sentiu a dor
Na manhã de chuva
Como se estivesse molhado até o osso

Talvez eu apenas queira voar
Eu quero viver, eu não quero morrer
Talvez eu apenas queira respirar
Talvez eu apenas não acredite
Talvez você seja igual a mim
Nós vemos coisas que eles nunca verão
Você e eu iremos viver para sempre

Talvez eu realmente não queira saber
Como seu jardim floresce
Porque eu apenas quero voar
Ultimamente você já sentiu a dor
Na manhã de chuva
Como se estivesse molhado até o osso

Talvez eu nunca serei
Todas as coisas que eu quero ser
Mas agora não é hora para chorar
Agora é hora de descobrir por quê
Eu penso que você é igual a mim
Nós vemos coisas que eles nunca verão
Você e eu iremos viver para sempre.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

o sol da manhã' no jardim encantado;


Quando o Rio encontra o Mar


Diz-se que, mesmo antes de um rio cair no oceano,
ele treme de medo.
Olha para trás, para toda a jornada: os cumes, as montanhas,
o longo caminho sinuoso através das florestas,
através dos povoados, e vê a sua frente um oceano tão vasto
que entrar nele nada mais é do que desaparecer para sempre.
Mas não há outra maneira.
O rio não pode voltar.
Ninguém pode voltar.
Voltar é impossível na existência.
Você pode apenas ir em frente.
O rio precisa se arriscar e entrar no oceano.
E somente quando ele entra no oceano é que o medo desaparece,
porque apenas então o rio saberá que não se trata
de desaparecer no oceano. Mas tornar-se oceano.
Por um lado é desaparecimento
e por outro lado é renascimento.
Assim somos nós.
Só podemos ir em frente e arriscar.


osho

sábado, 17 de janeiro de 2009

'Desde criança tive a tendência para criar em meu torno um mundo fictício, de me cercar de amigos e conhecidos que nunca existiram.Não sei, bem entendido, se realmente não existiram, ou se sou eu que não existo.'


O meu passado é tudo quanto não consegui ser. Nem as sensações de momentos idos me são saudosas: o que se sente exige o momento; passado este, há um virar de página e a história continua, mas não o texto.'



'Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar...' 

alberto caeiro - fernando pessoa

'Os sentimentos que mais doem, as emoções que mais pungem, são os que são absurdos - a ânsia de coisas impossíveis, precisamente porque são impossíveis, a saudade do que nunca houve, o desejo do que poderia ter sido, a mágoa de não ser outro, a insatisfação da existência do mundo. Todos estes meios tons da inconsciência da alma criam em nós uma paisagem dolorida, um eterno sol-pôr do que somos...O sentirmo-nos é então um campo deserto a escurecer, triste de juncos ao pé de um rio sem barcos, negrejando claramente entre margens afastadas.'


'Se escrevo o que sinto é porque assim diminuo a febre de sentir. O que confesso não tem importância, pois nada tem importância. Faço paisagens com o que sinto.'

'Saber não ter ilusões é absolutamente necessário para se poder ter sonhos. Atingirás assim o ponto supremo da abstenção sonhadora, onde os sentidos se mesclam, os sentimentos se extravasam, as idéias se interpenetram. Assim como as cores e os sons sabem uns a outros, os ódios sabem a amores, e as coisas concretas a abstractas, e as abstractas a concretas. Quebram-se os laços que ao mesmo tempo que ligavam tudo, separavam tudo, isolando cada elemento. Tudo se funde e confunde.' 



fernando pessoa

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009





- sentia uma dor imutável e calma no peito como se tivesse engolido o próprio coração e o suportasse com dificuldade.




clarice

'A esse ponto tudo parece antigo. Eu mesma pareço tão distante. Eu mesma estranho meu perfume, minhas calças, meus pés. Eu mesma desmancho os navios e naufrago refazendo frases.'



'O hábito tem-lhe amortecido as quedas. Mas, sentindo menos dor, perdeu a vantagem da dor como aviso e sintoma. Hoje em dia, vive incomparavelmente mais serena, porém em grande perigo de vida: pode estar a um passo de está morrendo ou a um passo de já ter morrido, e sem o benefício de seu próprio aviso prévio.'


'De repente as coisas não precisam mais fazer sentido. Satisfaço-me em ser. Tu és? Tenho certeza que sim. O não sentido das coisas me faz ter um sorriso de complacência. De certo tudo deve estar sendo o que é.'



clarice lispector

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

O Vento - Los Hermanos



Posso ouvir o vento passar
assistir à onda bater
mas o estrago que faz
a vida é curta pra ver...
Eu pensei..
Que quando eu morrer
vou acordar para o tempo
e para o tempo parar:
Um século, um mês,
três vidas e mais
um passo pra trás?
Por que será?
Vou pensar.
- Como pode alguém sonhar
o que é impossível saber?
- Não te dizer o que eu penso
já é pensar em dizer
e isso, eu vi,
o vento leva!
- Não sei mais
sinto que é como sonhar
que o esforço pra lembrar
é a vontade de esquecer...
E isso por que?
Diz mais!
Uh... Se a gente já não sabe mais
rir um do outro meu bem então
o que resta é chorar e talvez,
se tem que durar,
vem renascido o amor
bento de lágrimas.
Um século, três,
se as vidas atrás
são parte de nós.
E como será?
O vento vai dizer
lento o que virá,
e se chover demais,
a gente vai saber,
claro de um trovão,
se alguém depois
sorrir em paz.
Só de encontrar... Ah!!!






Rodrigo Amarante

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009



Venha! O amor tem sempre a porta aberta
E vem chegando a primavera
Nosso futuro recomeça...
Venha! Que o que vem é Perfeição.




renato russo

domingo, 4 de janeiro de 2009


- Sim, havia profundeza nela. Mas ninguém encontraria nada se descesse nas suas profundezas - senão a própria profundeza, como na escuridão se acha a escuridão. É possível que, se alguém prosseguisse mais, encontrasse, depois de andar léguas nas trevas, um indício de caminho, guiado talvez por um bater de asas. E - de repente - a floresta.


claricelispector

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009



Amo como ama o amor.
Não conheço nenhuma outra razão
para amar senão amar.
Que queres que te diga,
além de que te amo,
se o que quero dizer-te
é que te amo?




fernando pessoa.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Canção do dia de sempre



Tão bom viver dia a dia
A vida assim, jamais cansa.
Viver tão só de momentos
Como estas nuvens no céu
E só ganhar, toda a vida,
Inexperiência... esperança.
E a rosa louca dos ventos
Presa à copa do chapéu.
Nunca dês um nome a um rio:
Sempre é outro rio a passar.
Nada jamais continua,
Tudo vai recomeçar!
E sem nenhuma lembrança
Das outras vezes perdidas,
Atiro a rosa do sonho
Nas tuas mãos distraídas.






marioquintana

passarinhos

  Despencados de voos cansativos Complicados e pensativos Machucados após tantos crivos Blindados com nossos motivos Amuados, reflexivo...